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A Boêmia e a Delegacia: conhecendo a ambientação do livro!

 

Final dos anos 1940. A noite das grandes cidades fervilhavam luxúria com as dançarinas em seus cabarés. Entre os drinks música e belas mulheres, negócios ilícitos como chantagens, esquemas de corrupção, fraude e prostituição eram fechados. O Jogo do Bicho controlava bairros inteiros, investindo em casas noturnas, times de futebol, rinhas de galo e lutadores de boxe ou de rua, usando dinheiro ganho com a contravenção.

 

A boêmia era ao mesmo tempo escapismo e perdição para a pobreza e conservadorismo das cidades.

 

Para lidar com este universo notívago, foi criada a Delegacia de Jogos e Diversões (DJD), unidade especial da Polícia Civil responsável por lidar com a contravenção, boemia, espetáculos diversos - como esportes, jogos, cinema, teatro e dacings - bem como crimes relacionados à “moral e bons costumes”. Apesar de aparentemente ser um serviço simples e de cunho meramente conservador, esta era talvez a delegacia mais perigosa para se trabalhar, na medida em que ela lidava diretamente com Jogo do Bicho, Capoeira e prostituição. Além disso, as noites das grandes cidades eram povoadas de boêmios como malandros, mágicos, cantores, dançarinas, pirofágicos,instrumentistas,  jogadores (baralho e jogos de azar), e barmans, cujos objetivos se somavam habilidades ladinas, traiçoeiras e perigosas.

 

Decaída era a maneira pela qual a mulher que vivia da boêmia era conhecida, fosse ela artista ou prostituta. Isto porque, para a conservadora e hipócrita sociedade dos anos 40, tinham se deixado seduzir e abandonado seu “devido lugar” na família. Naquele contexto, o papel social da mulher era o de esposa, mãe e filha: as chamadas “mulheres honestas”.

 

Ou seja, cantar na noite era a porta da perdição: dançar, pior ainda! Viver na ou da boêmia era considerado, se não a mesma coisa, o primeiro passo para a vida fácil do meretrício.

 

Mas a vida das decaídas estava longe de ser “fácil”. Para a prática do trottoir, elas precisavam de registro legal na Delegacia de Jogos e Diversões. Nem todas conseguiam tal liberação e, eventualmente, precisavam subornar policiais ou contar com a proteção de cafetões para proteção contra maus elementos que abusassem delas. Infelizmente, o preço disto era a exploração sexual e a vassalagem aos chefões da noite.

 

Este modelo de vigilância e punição não se restringia às mulheres meretrizes. Artistas, lutadores profissionais e outros boêmios deveriam, também, obter este registro na Delegacia, o que nem sempre era simples ou barato: agentes corruptos faziam questão de dificultar os trâmites legais para obter algum ganho “extra”. A maior parte dos artistas vivia pelos cassinos e dancings, pagando as contas com o que ganhavam em suas apresentações. Por este motivo, recorriam a toda sorte de artimanhas para conquistar espaço; subornavam policiais, falsificavam documentos, chantageavam ou caluniavam rivais, seduziam gerentes, promoters e donos de bar, etc.       

 

O sonho artístico era chegar ao glamoroso mundo do rádio ou do cinema, que estava restrito para uns poucos talentosos e afortunados. Lógico, alguns diretores e executivos destas mídias poderiam ser tão ou mais inescrupulosos quanto os policiais, donos de bares e cafetões, o que só aumentava as apostas (e a temeridade) dos que aceitavam este jogo perigoso.

 

Na verdade, este contexto ilustra uma grande hipocrisia. A sociedade conservadora tentava manter nas sombras a música, a libido e a diversão, pois não podia viver sem ela: eram espaços secretos de desejos extravasados e, não raro, pervertidos e secretos...

 

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